Limitar internet fixa excluirá usuários, dizem especialistas

A oferta de pacotes de internet fixa com franquia de dados poderá encarecer o serviço e limitar o  acesso dos usuários no país. Segundo o especialista em propriedade  intelectual e direito digital Maurício Brum Esteves, as operadoras  querem impor limites de navegação porque precisam reduzir o uso da internet no Brasil.
“Elas constataram que as pessoas têm utilizado mais a internet, que está  ficando sobrecarregada. Ao impor o limite de dados, elas querem  literalmente tirar algumas pessoas da internet, que são aquelas pessoas  que não vão conseguir pagar.”
 
Para Esteves, a necessidade de estabelecer limites de navegação para os  usuários é resultado da falta de investimentos no setor. “Na medida em  que não se investe e as pessoas demandam mais, é natural que a banda  fique sobrecarregada e é natural que se precise impor um controle”.
Na última semana, o debate sobre a possibilidade de as operadoras de  telecomunicações passarem a oferecer internet fixa com limite de dados  para navegação ganhou força entre os consumidores, especialmente nas  redes sociais. 
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)  entende que as empresas não são proibidas de estabelecer limites para a  navegação, mas proibiu ontem (22) as operadoras de oferecer planos com  franquia, por tempo indeterminado, até que a questão seja analisada “com  base nas manifestações recebidas pelo órgão”.
Esteves avalia que a limitação de dados não seria problema se o  consumidor tivesse a opção de contratar uma quantidade grande de dados  por um valor razoável. Mas, na opinião do especialista, a franquia  oferecida pelas operadoras será “irrisória e caríssima”.
“O problema é que a limitação de dados vai acabar sendo cara e vai ser uma forma de limitar os consumidores”, acrescentou.
O professor Marco Aurélio Campos Paiva, que dá aulas de telecomunicações  e redes no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de  Goiás, considera que a adoção de franquias para a internet fixa é um  retrocesso, principalmente porque vai estabelecer uma limitação digital  para os usuários. 
“Caso seja adotado pelas empresas, será um grande prejuízo não só pela  questão financeira para o usuário, como na própria tecnologia, porque  vamos ficar limitados digitalmente”, avaliou.
Outra consequência, segundo Paiva, será a limitação de acesso de  estudantes a cursos de ensino a distância, que dependem da internet.  “Para o aluno pode ser um fator limitante, ele precisa fazer as aulas  online, precisa fazer download de arquivos, exercícios. Vai aumentar o  seu consumo, e dependendo da banda que ele tenha, o pacote será gasto  muito rapidamente”, destacou.
Para o professor, as empresas pretendem adotar a franquia de dados por  causa da falta de infraestrutura de telecomunicações adequada no Brasil.  “Nossa estrutura de telecomunicações ainda é muito limitada, as  operadoras investiram pouco. Se tivéssemos toda uma infraestrutura de  telecomunicações melhor, ou seja, fibra óptica cortando o país de Norte a  Sul, Leste a Oeste, não teríamos essa limitação”, analisou.
Já o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude, diz que a oferta de  pacotes de internet com franquia vai possibilitar que o consumidor faça  uma adequação da quantidade de dados contratada com o seu consumo. “Há  quem consome muito, outros que consomem pouco. Então, está na hora de  ter essa tarifação por pacotes, como vemos em vários países.”
Tude avalia que o crescimento do consumo de internet no Brasil é um dos  fatores para que as operadoras adotem um novo modelo de vendas. “A banda  larga fixa está virando o serviço principal das empresas e o consumo de  dados está crescendo muito, com um aumento de quase 50% por ano. Então,  não dá para manter o preço com esse aumento”, disse. O consultor lembra  que quando o governo lançou o Plano Nacional de Banda Larga, em 2010,  foi possível oferecer pacotes a preços populares porque havia uma cota  de dados associada ao plano.
Em nota, a operadora Vivo, que pretende começar a oferecer pacotes com  franquia, explicou que o volume de tráfego da rede cresce  exponencialmente no Brasil e no mundo. “Cada byte que circula na rede  consome capacidade e tem custo que compõe o valor das mensalidades dos  planos praticados ao cliente, hoje aplicados de forma igual para todos,  seja qual for o volume de dados consumido por mês”. A empresa nega que  pretenda implantar o modelo de franquia para restringir o acesso a  serviços de streaming ou de qualquer outro tipo.
Consumidores
Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), as  operadoras não apresentaram justificativas técnicas para inclusões ou  reduções de franquias de dados nos novos planos. “Ao adotarem essas  medidas, as operadoras elevam seus preços sem justa causa, detém  vantagem excessiva nos contratos, limitam a competição e geram aumento  arbitrário de lucro”, disse o pesquisador em telecomunicações do  instituto, Rafael Zanatta.
A entidade ingressou com uma ação civil pública contra as operadoras  Claro, Net, Oi e Telefônica. O objetivo é impedir a suspensão do serviço  de internet, que, segundo o Idec, é uma importante ferramenta de acesso  à informação, reconhecido como direito fundamental e essencial para o  exercício da democracia e da cidadania, “não devendo, portanto,  prevalecer as alterações desejadas pelas operadoras”.
Para a Proteste Associação de Consumidores, mesmo que as empresas  ofereçam aos consumidores ferramentas para medir o consumo e saber  quando a franquia está acabando, como determinou a Anatel, isso não é  suficiente. “A questão não é o direito de ser avisado sobre a  proximidade do esgotamento da franquia, o problema é adotar a franquia,  que a Proteste julga indevida porque viola leis existentes”, disse a  coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci.
A Proteste também entrou com uma ação judicial para impedir as  operadoras de limitarem o acesso à internet por meio de franquia, tanto  em celular, tablets e outros dispositivos móveis quanto em conexões  fixas e lançou uma petição online contra o limite de uso de dados de  internet dos serviços de banda larga fixa, que já tem mais de 150 mil  assinaturas.
Uma petição online no site da Avaaz contra o limite na franquia de dados  da banda larga fixa já alcançou 1,6 milhão de assinaturas e a página do  Movimento Internet Sem Limites já tem mais de 460 mil seguidores em sua  página do Facebook.
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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