PT sugere uso de reservas e impostos para país sair da crise

  Descontente com a política econômica do governo Dilma Rousseff, o PT vai apresentar, durante a comemoração de 36 anos do partido, um plano econômico paralelo, com objetivo de pressionar a presidente e apontar saídas para a crise. 
Batizado de Programa Nacional de Emergência, o plano propõe o uso de  parte das reservas internacionais destinado à criação de um Fundo  Nacional de Desenvolvimento e Emprego, "radicalização" dos mecanismos de  distribuição de renda, além de forte redução da taxa básica de juros e  volta da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF),  compartilhada entre União, Estados e Municípios.
A presidente Dilma já disse que é contra a utilização de reservas para o enfrentamento da crise.
         
    
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Escrito pelo presidente do PT, Rui Falcão, com aval do ex-presidente  Luiz Inácio Lula da Silva, o documento intitulado "O futuro está na  retomada das mudanças" propõe 16 pontos para retomar o crescimento e  lembra como o governo Lula saiu da crise em 2008-2009, destacando a  necessidade de "dobrar a aposta" na solução adotada naquele período.
"Vivemos, de fato, uma encruzilhada, entre o passado e o futuro", diz o texto, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O documento assinala que muitas medidas sugeridas dependem de aprovação  parlamentar, da "reunificação do campo progressista" do governo, de  "intensa batalha político-ideológica" e do "comprometimento" do governo  Dilma, indicando a rota de colisão entre o PT e o governo.
Bases
Um dos objetivos do programa de emergência é pressionar o Planalto a  adotar uma política econômica que agrade à base do partido, crítica ao  governo.
O texto, que fala em "políticas equivocadas" e aponta falhas do governo  na área econômica, foi concebido na semana passada durante reunião do  Conselho Político do PT, que contou com a participação de Lula, e vai  passar nesta sexta-feira, 26, pelo crivo do Diretório Nacional do  partido, podendo receber emendas.
Embora Falcão admita que as reservas e possibilidades fiscais do Estado,  hoje, são mais frágeis que às do período 2008-2009, ele também observa  no texto que passos devem ser dados para recuperar o emprego e a renda,  mesmo sob risco de aumento da dívida interna.
"É urgente encetarmos um debate profundo e corajoso sobre recapitalizar o  poder público, aprofundando o modelo de desenvolvimento que tem  distinguido os governos petistas e rejeitando a capitulação diante do  capital rentista e seus oráculos", diz o documento.
"A história recente nos ensina, de toda maneira, a correção do rumo  implementado entre 2008-2009. O agravamento da crise interna e  internacional, ao contrário de anular esse caminho, deve nos levar à  hipótese de dobrar a aposta na opção então adotada pelo presidente Lula,  com mais investimento público, mais desenvolvimento industrial, mais  mercado interno, mais integração regional, mais políticas públicas, mais  salário e mais emprego".
Dirigentes e parlamentares do PT afirmam, nos bastidores, que o governo  conseguiria reaquecer a economia se lançasse mão de um terço dos US$ 370  bilhões de reservas internacionais.
O argumento é que, se isso fosse feito, Dilma poderia combater a crise  com um vigoroso pacote de infraestrutura e investimentos. A mudança, no  entanto, deve ser urgente.
"Tal propósito não pode ser adiado até que se resolva a situação fiscal.  Ao contrário: as contas estatais somente poderão ser saneadas a partir  da radicalização dos mecanismos redistributivos".
Obras
O Programa Nacional de Emergência do PT também propõe que o Fundo de  Desenvolvimento e Emprego, a ser criado com parte das reservas  internacionais, seja destinado a "obras de infraestrutura, saneamento e  habitação, com destaque para ampliação do Programa Minha Casa, Minha  Vida".
Na lista das medidas sugeridas para sair da crise estão ainda reajuste  de 20% nos valores do Bolsa Família, recriação da CPMF, tributação de  juros sobre capital próprio, cobrança de impostos sobre lucros e  dividendos - eliminando a isenção do Imposto de Renda sobre pessoas  físicas e jurídicas -, além da adoção do imposto sobre grandes fortunas e  de regime progressivo para o Imposto Territorial Rural sobre  propriedades produtivas. Oito das 16 propostas dizem respeito a criação  de novos impostos ou fim de desonerações.
O documento afirma que, apesar da saída para a crise não ocorrer pela  volta ao passado, é preciso dar "passos firmes" para continuar mudanças  ocorridas a partir de 2003, no primeiro mandato de Lula, num claro sinal  de descontentamento com a administração Dilma.
"O governo Lula, para escândalo de porta-vozes do rentismo, amenizou  despesas com juros, reduziu superávit e aumentou o déficit nominal para  proteger a demanda", diz o texto.
"O gasto social (dinheiro aplicado em saúde, educação, previdência, etc)  subiu de R$ 2.690 para R$ 2.698, acima de 10%, enquanto o investimento  público total saltou de 3,7% para 4,2% do PIB, segundo dados do Ipea".
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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