Como a perda do selo de bom pagador do país afeta seu bolso

 A agência de classificação de risco Moody's anunciou nesta quarta-feira (24) o rebaixamento da nota de crédito do  Brasil. A Moody's era a última agência entre as três maiores que  mantinha o país como grau de investimento. 
A nota caiu de Baa3, último nível de grau de investimento, para Ba2. Em  dezembro, a agência havia sinalizado que poderia cortar a nota do país,  ao revistar a perspectiva de "estável" para "negativa".
O anúncio ocorreu exatamente uma semana após a Standard & Poor's cortar pela segunda vez a nota do país nos últimos cinco meses. Em dezembro, a Fitch rebaixou a nota do país e retirou o selo de bom pagador.
         
    
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Mas, na prática, o que isto significa para todo o país e para os brasileiros?
Basicamente, o grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calote. 
É a partir deste selo que os investidores avaliam se vale a pena  investir em ativos do país ou se a possibilidade de ganhos (como os  juros) compensa o risco de perder o capital investido com a  instabilidade econômica interna.
Isto significa que, enquanto o Brasil tinha contava com o selo das agências, ele tinha credibilidade de um "bom pagador". 
Agora, sem este selo das três maiores agências do mundo, o país receberá  menos capital de investimentos e o crédito ficará mais caro, explica  Luciano D'Agostini, economista da COFECON (Confederação Federal de  Economia) e pós-doutorando da UFRJ (Universidade Federal do Rio de  Janeiro).
O corte da nota de crédito e a retirada do selo de bom pagador das três  maiores agências de classificação de risco tem um primeiro impacto no mercado financeiro. 
Isto porque grandes fundos de pensão e investimento internacionais têm  que sair do país, pois eles têm cláusulas que proíbem sua permanência em  países que não possuem grau de investimento.
"O Brasil está perdendo o chamado 'dinheiro bom', que é aquele que causa  menos volatilidade, que não é o especulativo. São investimentos  estrangeiros de longo prazo. Agora teremos em maior quantidade o chamado  'dinheiro ruim', que é o especulativo, que fica pouco tempo e causa  volatilidade de preços", conta.
Em um segundo efeito, as empresas são afetadas. Se o Brasil perdeu o título de "bom pagador", as empresas brasileiras perdem essa "janela" para capitar recursos com juros mais atrativos. 
A lógica é simples: se aumenta o risco de calote, os juros de  empréstimos serão mais altos. Além disso, para atrair investidores, o  retorno do investimento terá de ser maior.
Se a empresa tem um custo maior para se manter e crescer, ela terá de  reduzir a produção e os gastos. Ou seja, diminui a oferta de produtos e  serviços -- o que impacta nos preços e pressiona a inflação --, e freia a  geração de empregos, já que a firma está produzindo menos.
"Essas demissões não são causadas porque somos ruins, mas porque a gente  está fora de um sistema muito simples: rentabilidade do negócio", diz o  economista da COFECON. "Não adianta ter a mesma estrutura se menos  dinheiro vai entrar."
Segundo D'Agostini, o corte de crédito das três agências vai aumentar  ainda mais o desemprego. "Em um ou dois meses já estaremos com uma taxa  de desemprego batendo os dois dígitos. E ela vai permanecer nos próximos  dois anos, no mínimo."
Além de pressionar a inflação e aumentar o desemprego, o crédito para a pessoa física e para os pequenos negócios vai aumentar. 
"Para tornar os títulos públicos e outros investimentos indexados à  Selic mais atraentes, o Banco Central deve continuar aumentando a taxa  básica de juros". Hoje, a Selic está a 14,25% por ano, uma taxa  considerada bem elevada por economistas.
Isto significa que os juros do seu cartão de crédito, empréstimo  bancário, financiamento imobiliário, entre outros, vão ficar mais caros.
Por fim, outro conhecido vilão da inflação e de quem pretende viajar pra  fora volta a assustar. "O dólar pode chegar a R$ 4,50 ou R$ 5 neste  ano, o que certamente vai impactar nos preços dos importados", disse  D'Agostini, acrescentando que:
"Como reflexo, o Brasil está ficando mais pobre. Com menos dinheiro  circulando e diminuição da produção, aumenta a pobreza, aumenta o  desemprego e temos juros astronômicos. Este é um ciclo negativo que só  vai ter fim quando tivermos uma mudança no plano econômico."
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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